Ele transformou a demissão em oportunidade e hoje trabalha na cozinha de casa

Quando perdeu o emprego de relações públicas em um escritório, Eduardo Morgado viu a chance de começar a empreender fazendo algo que ama

Hoje, ele prepara comidas indianas para vender e pensa em estratégias de crescimento para alcançar um crescente número de adeptos ao vegetarianismo e ao veganismo, que faz esse mercado movimentar R$ 15,3 milhões ao ano

Aos 15 anos de idade, Eduardo Morgado, 30 anos, tomou uma decisão que mudaria sua vida: por respeito aos animais, tirou de vez a carne da alimentação. A opção de ser vegetariano acabou complicando um pouco a rotina de sua mãe, que ficou sem saber o que cozinhar para o filho. A solução encontrada por Morgado foi começar a se aventurar no mundo da culinária, onde descobriu uma verdadeira paixão pela comida indiana.

Eduardo Morgado – fundador da Curry Natural

A ideia de empreender chegou quase 15 anos depois, em 2017, quando o empresário foi demitido do escritório de advocacia onde trabalhava como relações públicas. Na época, ele pensou em procurar um novo emprego na área, mas, ao ver o mercado desaquecido e contratando pouco, pensou que seria uma boa hora para abrir o próprio negócio.

“COMO EU SEMPRE COZINHEI, PENSEI EM FAZER COMIDA VEGETARIANA E VEGANA PARA VENDER. ACABEI ESCOLHENDO A CULINÁRIA INDIANA POR TER UMA PROPOSTA DIFERENTE DA CULINÁRIA DO DIA A DIA. SEM FALAR NO SABOR, QUE É DELICIOSO”, DIZ O DONO DA CURRY NATURAL, EMPRESA QUE VENDE COMIDAS INDIANAS CONGELADAS POR DELIVERY.

Além do dom na cozinha, Morgado levou em conta o crescimento do mercado de comidas vegetarianas e veganas. Segundo dados do Ibope e da Euromonitor, em 2016, esse tipo de alimentação movimentou cerca de R$ 15,3 milhões no Brasil. No mundo, a receita chega a US$ 51 bilhões por ano. Seja pela causa animal, ambiental ou pela saúde, 30 milhões de brasileiros já são adeptos da alimentação vegetariana, de acordo com a Sociedade Brasileira de Vegetarianos. E o número segue crescendo.

Começando a vida de dono

O primeiro passo de Morgado como empreendedor foi fazer alguns cursos no Sebrae e bolar um plano de negócios simples, viável de tirar do papel. Em seguida, abriu um CNPJ como Micro Empreendedor Individual (MEI) e foi atrás das licenças necessárias para vender alimentos. O nome do negócio foi inspirado no curry, principal tempero da culinária indiana.

Enquanto a parte burocrática andava, o empreendedor pensou nas receitas que fariam parte do cardápio e montou um site e abriu uma conta no Instagram para receber os pedidos. Como ter um ponto físico em São Paulo tem um custo muito alto, ele adaptou a cozinha de casa, no bairro do Ipiranga, no zona Sul da capital, para poder preparar ali mesmo as comidas da Curry Natural.

As primeiras vendas foram feitas no começo de 2018, com um investimento inicial de apenas R$ 200 – gastos na compra de alimentos e temperos próprios da culinária indiana. O delivery funciona tanto na hora do almoço como no jantar. Os pedidos podem ser feitos pelo site, pelo Instagram (@currynatural) ou pelo iFood.

Morgado é o faz tudo do dia-a-dia: prepara a comida, cuida do Instagram e do site, resolve burocracias e faz compras. Até pouco tempo, ele também fazia as entregas, mas agora passou a tarefa para a Loggi e para o iFood.

O número de entregas do Curry Natural ainda não é muito alto, entre 50 e 60 marmitas por mês, mas está crescendo, conta o empreendedor. Ele ainda não consegue tirar um salário da empresa, pois todo o dinheiro que entra é para sustentar o próprio negócio. Até agora, ele tem pagado as contas pessoais com as economias que conseguiu fazer antes de começar a vida de dono.

Os sabores do curry

As marmitas de 350g incluem arroz (branco ou integral), legumes e um curry do cardápio. O pedido mínimo é de duas marmitas, cada uma saindo por R$ 20. A partir de três unidades, o preço cai para R$ 18 cada e, para pedidos de seis marmitas ou mais, o valor é de R$ 16. Quem prefere arroz integral em vez do arroz branco deve pagar mais R$ 3 por marmita.

Entre as opções de curry estão o grão de bico masala, que é feito com grãos de bico ao molho indiano com base de tomate; o curry de feijão, que inclui três tipos de feijões cozidos ao molho cremoso com especiarias e o tikka masala vegan, feito com proteína de soja e cogumelos cozidos ao molho masala. Há também receitas de petiscos como masala vada, feito com bolinhos de lentilha vermelha com especiarias.

O grande diferencial das comidas da Curry Natural é que são cheias de sabor – desmistificando a ideia de que refeições sem carne “não têm graça”. Segundo Morgado, a culinária indiana mostra que um prato pode ser saudável e gostoso ao mesmo tempo, graças à grande variedade de temperos e modos de preparo.

Os desafios do mercado

Sem grandes investimentos em marketing, a maior dificuldade encontrada por Eduardo Morgado no setor alimentício tem sido se destacar diante da concorrência, que é cada vez maior.

“NESSE MERCADO DE ALIMENTOS, HÁ MUITOS PLAYERS. TODO DIA ALGUÉM PENSA EM FAZER COMIDA CONGELADA PARA VENDER. É UM MERCADO MUITO CHEIO”, AFIRMA O EMPREENDEDOR.

Além disso, ele acredita que a venda por delivery seja um desafio à parte, pois exige uma programação do consumidor. Como a refeição demora um tempo para chegar em casa e mais um tempo para ser descongelada, não é uma boa opção para quem está com fome e quer comer algo rápido. “Também tenho a filosofia de que as pessoas compram por impulso quando estão com vontade de comer. Nesse caso, a comida congelada não atrai, pois é preciso planejamento para pedi-la”, diz ele.

Os sonhos do empreendedor

Apesar de ser um mercado difícil, Morgado acredita ser possível crescer. Para aumentar as vendas e ficar mais conhecido, ele aposta nas redes sociais, onde divulga seus pratos e busca alcançar os potenciais clientes por meio de campanhas.

A ideia agora é encontrar formas de atrair melhor o público-alvo e convencê-lo de que vale a pena se planejar um pouco para comer um alimento saboroso, saudável e preparado com carinho. Futuramente, Morgado pensa também em buscar um empréstimo para investir mais no negócio. Como empreendedor, ele tem um sonho: um dia transformar a Curry Natural em um restaurante.

“EU FAÇO COMIDA CONGELADA HOJE, MAS GOSTARIA DE TER ALGO FÍSICO. GOSTO DE TRABALHAR COM PESSOAS, VENDER ALGO QUE EU FIZ E TER UM RECONHECIMENTO POR ISSO. TENHO O SONHO DE VIVER DO MEU NEGÓCIO”, DIZ ELE.

Fonte: https://www.jornalcontabil.com.br/